quarta-feira, 18 de junho de 2008

Amor ao Mar


Por Michelle Ferret - Repórter.

http://tribunadonorte.com.br/noticia.php?id=72983


Foi nos braços da obra-prima de Guimarães Rosa que o ator, diretor teatral e dramaturgo Henrique Fontes abrigou seu texto teatral “A Mar Aberto”, que será encenado a partir de amanhã na Casa da Ribeira, pontualmente às 20h30. Este é o terceiro texto do autor, que escreveu também “Pobres de Marré” e “O Tempo da Chuva”. A história de “Mar Aberto” foi construída como uma rede de pescar, quando Henrique passou férias na praia de Galos, litoral norte do RN, e começou a perceber o movimento dos pescadores indo e vindo do mar. “Convivi uns dias com eles, observando os hábitos, a simplicidade e também os desejos dos homens do mar”, conta Henrique.O desejo se entrelaçou com a leitura que estava fazendo no momento da obra “Grande Sertão: Veredas” e durante três dias Henrique conseguiu tecer a história que será encenada pelo coletivo “Atores à deriva”, formado por um grupo de atores agregados de outros grupos teatrais da cidade. Estão no elenco Alex Cordeiro, Bruno Coringa, Doc Câmara, João Victor e Paulo Lima, oriundos de grupos como ‘Beira de Teatro’, ‘Facetas, Mutretas e outras histórias’, ‘Brincarte’ e do projeto artístico pedagógico ‘Pau e Lata’.Juntos eles contam a história de um velho lobo do mar de nome José Hermílio. Aos 30 anos, o jovem pescador José tira do mar o sustento e a própria razão de existir. Nesse ir e vir, o pescador se encontra traído pelo coração, quando se apaixona por Júlio de Joana, outro pescador ainda mais jovem, de 19 anos. “O personagem entra num conflito existencial e acredita ser essa paixão uma artimanha do demônio contra ele”, explica o dramaturgo. Júlio na verdade é um rapaz que abandona a faculdade na cidade para se tornar pescador e, nessa transição, encontra José. O conflito do desejo proibido é o tema central da peça, quando a pescaria se transforma num lugar de resistência aos desejos mais íntimos e a luta da tormenta interna e externa. Nesse mar de sentimentos, o preconceito, a paixão, a religião, a culpa saltam das encenações e ganham o imaginário dos personagens. “Toda a história foi escrita por mim, mas as atuações partiram do coletivo”. O processo da construção da obra durou três meses, numa rotina intensa de ensaios, regada a pouco patrocínio, segundo conta o diretor, “misturada à vontade de fazer teatro”. Henrique conta, porém, que teve apoio de algumas empresas privadas e também da Fundação José Augusto. A ligação da peça com “Grande Sertão: Veredas” é a paixão. “Assim como José Hermílio nessa peça, o protagonista Riobaldo se vê apaixonado por outro homem -“Diadorim”, que ele até o final acredita ser homem e se culpa por isso”, disse Henrique.Além da atuação, um ponto forte na peça é a música. “Convidei Danúbio Gomes e ele preparou e dirigiu todo o espetáculo. Posso dizer que ele é o co-diretor, porque a música está envolvendo toda a história, trazendo um sentido forte para a obra”, disse..

Coletivo à deriva
Depois de dirigir e escrever duas peças “o Tempo da Chuva”, com Paula Vanina e “Pobre de Marré”, com Titina Medeiros e Quitéria Kelly, Henrique Fontes decidiu reunir atores de vários grupos da cidade para a montagem. “A proposta é estimular a troca entre artistas de diversos grupos, criando uma sintonia forte”, disse o diretor.

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